Insper e Instituto Unibanco lançam estudo nacional sobre perda de aprendizagem na pandemia

Insper e Instituto Unibanco lançam estudo nacional sobre perda de aprendizagem na pandemia

Liderado pelo economista e professor do Insper Ricardo Paes de Barros, material aponta possível perda de aprendizagem entre estudantes que concluíram o segundo ano do Ensino Médio em 2020 e quais seriam os caminhos para mitigação dos efeitos da pandemia em 2021

O Insper e o Instituto Unibanco acabam de lançar o estudo Perda de aprendizagem na pandemia. A publicação reúne evidências nacionais e internacionais para estimar o impacto da suspensão das aulas presenciais no desenvolvimento dos estudantes que irão se formar no Ensino Médio em 2021.

Liderado pelo economista e professor do Insper Ricardo Paes de Barros, o material aponta que os jovens que iniciaram o atual ano letivo têm uma proficiência em Língua Portuguesa e Matemática de 9 a 10 pontos (na escala Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica) abaixo do que iriam alcançar caso não houvesse a necessidade de transitar do ensino presencial para o remoto devido à pandemia. Chama a atenção ainda para o fato de que na ausência de políticas bem-sucedidas em 2021 para a recuperação da aprendizagem desses estudantes, calcula-se que essa perda pode ser de 16 a 20 pontos ao final de 2021. Para referência, um aluno aprende tipicamente entre 15 e 20 pontos ao longo do Ensino Médio.

Para chegar aos resultados, o grupo de pesquisadores usou como metodologia um modelo de simulação capaz de estimar a perda da aprendizagem durante os anos letivos de 2020 e 2021, a partir de parâmetros factuais (número de dias letivos em 2020 com educação presencial e o grau de adesão dos estudantes ao ensino remoto); inferidos da experiência brasileira ou internacional em situações similares (eficácia do ensino remoto relativa ao ensino presencial e a perda de proficiência dos alunos que abandonam o ensino remoto); e referentes a situações que ainda nem sequer aconteceram (a porcentagem dos dias letivos em 2021 que será oferecida apenas de forma remota e o esforço dos sistemas educacionais para recuperar as perdas de aprendizado ao longo dos primeiros meses).

“Primeiro, determinamos a população de referência para o estudo, que seria formada por concluintes do Ensino Médio em 2021 nas redes estaduais de educação. Isso nos permitiu definir o ponto de partida, isto é, a proficiência desse grupo quando o ensino presencial foi interrompido em 2020. Em seguida, estimamos a proficiência esperada dos estudantes caso a pandemia não tivesse ocorrido e também o aprendizado na 2ª e 3ª séries do Ensino Médio após o início da pandemia, considerando o ensino remoto e o abandono escolar. A diferença entre o aprendizado esperado antes da pandemia e o aprendizado após fechamento das escolas é o impacto estimado, a perda de aprendizagem”, explica Paes de Barros.

Além da perda de proficiência, o material reúne estimativas sobre qualidade do ensino remoto, engajamento dos estudantes durante a suspensão das atividades presenciais nas escolas e impactos na renda, além de indicações de recuperação e mitigação das perdas educacionais. “O estudo é um importante referencial para que gestores e redes de educação possam entender a realidade e tomar ações estratégicas de modo a recuperar a aprendizagem dos estudantes”, destaca o economista Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.  “Em 2020, já tivemos uma perda gigantesca no desenvolvimento desses jovens. As simulações realizadas são a melhor evidência que possuímos neste momento e apontam possíveis caminhos de mitigação, importante para guiar políticas públicas”, afirma.

Ensino remoto e engajamento

As estimativas de aprendizado têm como referência a proficiência que tipicamente era atingida pelos alunos da rede estadual ao longo do Ensino Médio. Com a pandemia, o aprendizado estimado resulta da interação de três parâmetros: a eficácia relativa do ensino remoto versus o ensino presencial; a perda de aprendizado dos alunos que não se engajam no ensino remoto; e o grau de engajamento dos estudantes com o ensino remoto.

A partir da experiência internacional, estimou-se que, com ensino remoto, o aprendizado em Linguagem é 38% do que seria com ensino presencial. Em Matemática, é apenas 17% do que seria alcançado na modalidade tradicional. Já a magnitude da perda de aprendizado típica dos alunos que não se engajam no ensino remoto foi obtida considerando-a como equivalente à do absenteísmo. Com isso, calculou-se que para cada dia de aula perdido, o estudante não só não aprende o que foi tratado no dia em que faltou, mas também tem uma perda de proficiência adicional equivalente ao que aprenderia em 1,55 dia de aula.

Por fim, a transição abrupta para o ensino a distância, atrelada aos efeitos sociais da pandemia em outras dimensões, como saúde e emprego, pode ter contribuído também para um baixo engajamento dos estudantes nas atividades escolares durante esse período. Com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid19 (PNAD Covid19), o estudo aponta um grau de utilização da educação remota de apenas 36%.

Impacto na renda futura

Já em relação ao trabalho, a literatura mostra que um ponto a menos de proficiência reduz a remuneração do trabalho em 0,5% ao longo de toda a vida. Com isso, calcula-se que a perda de aprendizagem entre os estudantes concluintes do Ensino Médio reduzirá entre R$ 20 mil e R$ 40 mil a renda desses jovens. Extrapolando esses valores para o conjunto dos estudantes no Ensino Fundamental e Médio, a perda de renda futura esperada desses jovens já alcança R$700 bilhões, podendo chegar a R$1,5 trilhão caso nada de novo seja feito.

Proposições

Para mitigar as perdas educacionais e evitar ainda mais retrocessos ao longo de 2021, foram elencados cinco pilares fundamentais para melhoria da aprendizagem: a permanência dos estudantes na escola por meio de ações de combate ao abandono e evasão escolar; a implementação de políticas que busquem ampliar o acesso e a qualidade do ensino remoto; a promoção de um maior engajamento dos estudantes no ensino remoto; o retorno, quanto antes, às atividades presenciais, mesmo que inicialmente em modelo híbrido; e a adoção de ações para a recuperação e aceleração do aprendizado dos estudantes.

De acordo com o estudo, a volta às aulas com o ensino híbrido e o maior engajamento dos alunos podem reduzir a perda de aprendizagem em 2021 em 20%. Com isso, em língua portuguesa, por exemplo, a perda potencial ao final de 2021 pode ser reduzida de 16 para 13 pontos. Segundo Henriques, as ações de mitigação são ainda mais fundamentais no caso dos jovens do Ensino Médio, que já não têm muito tempo no ensino formal para aprender tudo o que precisariam caso não houvesse a pandemia. “Neste momento, devemos agir para a melhoria da aprendizagem de todos os estudantes, mas com a percepção de que foram afetados de maneira distinta pela pandemia. Por isso, é necessário ter muito foco em alguns segmentos da população para reduzirmos desigualdade que se ampliaram diante da pandemia”, finaliza.

É importante ressaltar que o presente estudo é uma estimativa das perdas de aprendizagem, feita com rigor técnico e baseada nas melhores evidências disponíveis. Na ausência de dados que já permitam mensurar as consequências efetivas da pandemia no ensino, o exercício da estimativa é importante para já ajudar na orientação às respostas das políticas públicas aos desafios do presente.

Confira a íntegra da publicação no site do Instituto: https://www.institutounibanco.org.br/conteudo/estudo-perda-de-aprendizagem-na-pandemia/

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