Berço da civilização egípcia, o rio Nilo possibilitou o desenvolvimento de uma sofisticada cultura quatro mil anos atrás em meio ao árido deserto do Saara. Ao longo do seu fértil e extenso leito, floresceu a agricultura, o que trouxe riqueza e prosperidade para os habitantes da região milênios atrás.
O Egito não é mais rico e próspero como no passado, mas continua totalmente dependente do rio Nilo – o mais longo rio do planeta, com mais de 7 mil quilômetros de extensão – para ser viável. Ele provê mais de 90% da água do país.
Barragem no rio Nilo
Por isso, os egípcios enxergam a construção de uma gigantesca barragem na Etiópia como uma grave ameaça à segurança hídrica do país e de seus 93 milhões de habitantes. O mesmo pensamento predomina no Sudão, que também será impactado pela nova hidrelétrica. A obra iniciada em 2011 está em fase final e represará parte da água do rio.
A polêmica barragem Grande Renascença, a maior do continente africano irá impedir passagem do Nilo Azul, principal afluente do Nilo, responsável por 86% do fluxo de água do rio, criando um lago ao longo de 250 quilômetros.
Com a barragem, serão gerados cerca de 6 mil megawatts (MW) de energia, mais do que o suficiente para abastecer toda a Etiópia. O país pretende impulsionar o crescimento econômico com a exportação da energia que não será utilizada internamente.
Energia excedente
Comercializar a energia excedente é fonte de receita para vários países e também para empresas privadas, que produzem biomassa, por exemplo, e até mesmo para pessoas físicas que geram energia solar em casa.
Mesmo com o estímulo econômico prometido, a Grande Renascença recebeu avaliações negativas internas, em função do reassentamento de agricultores da região, além de críticas do Egito e do Sudão, que temem perda de água potável num continente onde a escassez hídrica é notória e provoca disputas pelo controle de suas águas.
Desde 1959, o Egito e o Sudão monopolizam o acesso às águas do Nilo por meio de um acordo que garante a eles 90% da massa líquida do rio que atravessa onze países. Mas, nos últimos anos, nações como Etiópia, Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi passaram a exigir que a partilha seja igualitária.
Yilma Seleshi, que dirige a delegação etíope nas negociações em torno da barragem, defende o projeto. “A Etiópia não tem qualquer intenção de prejudicar os países a jusante, seja o Egito, seja o Sudão. Só queremos o nosso direito: A utilização justa e razoável da água”, afirma.
Impacto da hidrelétrica
Em 2015, um acordo selado entre Etiópia, Egito e Sudão estabeleceu que seria realizado um estudo independente para avaliar os reais impactos da nova hidrelétrica. O prazo acordado passou e nada foi feito, o que tem irritado autoridades egípcias. “As conversas estão difíceis”, declarou Sameh Shukri, ministro egípcio das relações exteriores, no ano passado.
Ninguém sabe ao certo o que o futuro trará. Depois de a barragem ser concluída, ainda vai levar seis ou sete anos até que o vale do Nilo desapareça debaixo do enorme lago. O conflito político gerado pela Grande Renascença, porém, ameaça agravar-se bem antes disso.