A pecuária no Brasil é um dos principais pilares econômicos. O país está entre os principais produtores de carne bovina do mundo, com um rebanho maior que 209 milhões de cabeça de gado. A exportação da carne representa cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ou 30% do PIB do agronegócio. No entanto, vários problemas ambientais são desencadeados em virtude da expansão da atividade, sendo a criação dos animais a grande responsável por áreas desmatadas e uso indiscriminado de venenos agrícolas.
Mas existe uma solução – a criação orgânica – e ela já está sendo usada no Pantanal, o bioma mais preservado do Brasil. Ali, 15 fazendas, que ocupam uma área de mais de 120 mil hectares mostram que é possível criar gado de forma sustentável. Organizados em torno de uma atividade rentável e com o mínimo de agressão ao meio ambiente os pecuaristas abriram um novo mercado.
Como funciona
Num sistema orgânico de produção não existem antibióticos, hormônios sintéticos, ração à base de grãos transgênicos e pastagens tratadas quimicamente — seja com adubos, seja com herbicidas. No cardápio dos animais só entraram pasto natural, grãos livres de transgenia e probióticos (bactérias benéficas à saúde dos animais).
No frigorífico, o abate desse gado é feito separadamente, sem nenhum contato com bois criados de maneira convencional. Nas prateleiras dos supermercados, por fim, um selo indica a origem da carne, que, além de orgânica, é sustentável. O preço dos cortes chega a ser de 10% a 30% mais alto do que a média de outras carnes consideradas nobres.
Manejo sustentável do pasto
A técnica consiste em permitir que os bois pastem em determinado cercado e, antes que o capim acabe, sejam transferidos para o cercado ao lado, sucessivamente. Quando o boi retorna ao primeiro piquete, o capim já cresceu. Isso evita a degradação da pastagem por exaustão e, consequentemente, a derrubada de novas áreas de mata.
Cartilha dos produtores
Todos os pecuaristas que hoje fazem parte da Associação de Produtores Orgânicos do Pantanal adotam um protocolo de produção de carne sustentável — uma espécie de cartilha de boas práticas que, se seguida à risca, garante que o produto chegue certificado às prateleiras. A adoção das diretrizes já rendeu ganhos de produtividade a boa parte deles.
Numa fazenda convencional pantaneira, a taxa de lotação gira em torno de três animais a cada 10 hectares. O devido cuidado com as pastagens nativas do bioma, movimentando o gado e impedindo a compactação do solo, aumentou a capacidade de acomodação do pasto: agora, cinco animais ocupam o mesmo espaço de antes, sem prejuízo do ritmo de alimentação.
Produtividade maior
Como a região pantaneira é uma tradicional produtora de bezerros, a produtividade das vacas também é um indicador importante. Hoje, para cada 100 vacas em idade reprodutiva, nascem até 80 bezerros por ano. Tradicionalmente, o número atingia no máximo 65. A despeito dessas vantagens, o produtor que decide não só pelo manejo sustentável, mas também pela produção orgânica, precisa se preparar para um decréscimo temporário de rentabilidade — que pode durar até três anos — enquanto ajusta o sistema de produção aos novos métodos. As mudanças têm valido a pena.
As experiências da região mostram que, seis anos após a adequação da produção, a produtividade pode crescer cerca de 30%.
A vantagem desse tipo de sistema produtivo não é apenas ambiental — nem restrita ao nicho de mercado que vem se consolidando em torno dos produtores pantaneiros. O Brasil, hoje o maior exportador de carne bovina do mundo, ainda está aquém de seu potencial no segmento de carnes premium — entre elas as oriundas de produção orgânica. De acordo com um relatório da consultoria inglesa Future Markets Insights, o Brasil, ao lado da Argentina, é um dos países latino-americanos com maior potencial nesse mercado por causa de suas pastagens nativas permanentes, que podem ser manejadas sem uso de químicos.
Com dados da revista EXAME e ABPO.