Somente 2012 registrou uma superfície de gelo menor, após uma tempestade atípica. Em 2020, onda de calor na Sibéria ajudou a aumentar derretimento.
Na última passada, a calota polar do Ártico – região formada por gelo que flutua no oceano Ártico – atingiu a segunda menor área de cobertura desde o início das medições, em 1978. É o que diz um novo relatório de cientistas americanos, divulgado em 21 de setembro de 2020.
A extensão mínima foi atingida em 15 de setembro, quando os cientistas do Centro Nacional de Neve e Gelo (NSIDC) mediram apenas 3,74 milhões de quilômetros quadrados de gelo; é apenas 350 mil quilômetros quadrados de gelo; é apenas 350 mil quilômetros a mais do que o recorde registrado em 2012, quando a área chegou a 3,39 milhões de quilômetros quadrados após ser alvo de um ciclone atípico.
A camada de gelo no extremo norte do planeta derrete no verão boreal e, geralmente, atinge seu mínimo em meados de setembro. Apesar disso, ela volta a crescer com o congelamento trazido pelo inverno. A cada ano, no entanto, a área que volta a congelar em março está ficando menor do que a derretida, fazendo com que a calota polar efetivamente diminua de tamanho. As 14 menores áreas de superfícies registradas estão todas nos últimos 14 anos. Segundo cientistas, isso é consequência do aumento da temperatura média do planeta – o verão de 2020 no Hemisfério Norte foi o mais quente já registrado pela humanidade.
Em 2020, a perda de gelo foi especialmente rápida no começo de setembro em decorrência da atípica onda de calor que atingiu a Sibéria, região gelada da Rússia onde as temperaturas registradas neste ano foram até 10º C maiores que o normal. A maior taxa de perda de gelo da história ocorreu entre os dias 31 de agosto e 5 de setembro, segundo os pesquisadores.
A região do Ártico é especialmente vulnerável ao aumento de temperaturas, porque o derretimento funciona como um efeito dominó: o gelo reflete mais luz do que absorve. Quando ele derrete, dá lugar à água, que, por ser mais escura, absorve mais luz e aumenta ainda mais o problema. Isso ajuda a explicar porque o Ártico tem aquecido duas vezes mais do que o resto do planeta nos últimos 30 anos.
A tendência de piora nos últimos anos é evidente, e isso é preocupante porque o derretimento da calota polar afeta profundamente a fauna da região, de ursos polares a algas e plâncton.
“Parece que 2020 vai entrar para a história como o ano que enterra qualquer negação plausível das mudanças climáticas”, comentou Mark Serreze, diretor do NSIDC, em entrevista à CNN. “Qualquer evento individual que seja pode ser atribuído ao clima, mas juntando tudo com as ondas de calor, os incêndios, os furacões e tempestades, a natureza está nos dizendo algo.”
FONTE: Super Interessante | Por Bruno Carbinatto