Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram no dia 28 de Setembro, em Brasília, o software Sistema de Vulnerabilidade Climática (SisVuClima), capaz de prover técnicos, prefeitos e governadores com informações qualificadas que auxiliem na redução de efeitos de mudanças climáticas, protegendo, assim, a população de seus territórios de abrangência e subsidiando decisões quanto a priorizações no orçamento.
O SisVuClima , já disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (MMA), inicialmente beneficia 1.020 cidades de seis estados (Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão e Amazonas), devendo ser estendido, posteriormente, a todo o país.
O diretor do Departamento de Políticas em Mudança do Clima do MMA, José Domingos Miguez comentou que, em uma fase preliminar, através de um levantamento feito pelo estado de Santa Catarina, se pôde observar que nem sempre o orçamento municipal é condizente com as necessidades dos habitantes. “Aumentar o gasto público nas áreas corretas significa ampliar a resiliência da população aos fenômenos”, pontuou.
Adaptação
O coordenador do projeto, o médico e pesquisador da Fiocruz Ulisses Confalonieri, destacou que, para que possa ser usufruído pelas demais unidades federativas, o sistema foi feito da forma mais genérica possível, podendo ser ancorado em qualquer contexto, independentemente de suas características regionais.
“O que a gente fez foi lançar uma metodologia básica. Com o uso, tudo pode ser aperfeiçoado, mudado ou até simplificado, dependendo do lugar. E o desafio era fazer alguma coisa que pudesse ser usada tanto no Norte como no Sul do país”, afirmou.
O projeto levou quatro anos para ser desenvolvido e custou R$ 2,8 milhões, financiados pelo Fundo Clima, administrado pelo MMA. Quatro pesquisadores da Fiocruz compuseram o núcleo de trabalho e optaram por fazer com que o sistema rode em um software livre, programado em Python (linguagem de programação amigável). Embora o público-alvo sejam os gestores, qualquer cidadão pode acessar o SisVuClima, não sendo exigido nenhum cadastro para a entrada.
Cientes de que a transversalidade é fundamental para orientar os gestores, os pesquisadores se basearam em 64 indicadores para construir sua análise, incluindo aspectos ambientais, sociais, demográficos, epidemiológicos e climáticos. No cálculo do chamado Índice Municipal de Vulnerabilidade, entram parâmetros como o Índice de Pobreza, que retrata cenários como a percentagem de analfabetismo, de domicílios sem saneamento e mortalidade infantil, e o Índice de Organização Política, que traz informações quanto à existência de conselhos e consórcios municipais que tratem da adaptação ao clima.
Bases de dados
Bases de dados nacionais, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Sistema Único de Saúde (DataSUS), do Ministério do Trabalho e do Sistema Firjan, foram aproveitadas pelos pesquisadores, que também organizaram, durante meses, seminários com técnicos locais, a fim de compreender a dinâmica inerente a cada um dos estados do projeto piloto.
Perguntado sobre possíveis inspirações estrangeiras, Confalonieri explicou que no exterior há prevalência de foco nas métricas geográficas e não tanto uma preocupação em fornecer informações sobre se um município está devidamente aparelhado ou não para enfrentar os impactos oriundos de fenômenos climáticos. Segundo ele, os outros países não atentam para a disponibilidade de instrumentos como a Defesa Civil, gerenciamento de risco e infraestruturas de socorro satisfatórias, entre elas a boa cobertura de atenção básica de saúde e leitos hospitalares suficientes.
Especializado em Epidemiologia e Doenças Transmissíveis, Confalonieri frisou que o componente saúde foi incluído no estudo como fator crítico, na forma do Índice de Doenças Associadas ao Clima, que reúne taxas de incidência de leptospirose, dengue, malária, leishmaniose, esquistossomose e hantavirose, quadros envolvendo picadas de animais peçonhentos (aranha, serpente e escorpião) e doenças de origem infecciosa intestinal.
O secretário de Mudanças de Clima e Florestas do MMA, Everton Lucero, ressaltou que o SisVuClima também pode projetar o Brasil na comunidade internacional como um expoente vanguardista. Ele afirmou que “nenhuma iniciativa é isolada, fora de um contexto maior”, estando sempre atrelada a compromissos firmados no plano global, como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas. Ele salientou que, no seu entendimento, as ações políticas e ambientais devem estar bem atadas, já que “os mais pobres tendem a sofrer mais”, quando uma região é atingida.
Fonte: Agência Brasil