Lixo eletrônico tem impacto em quem tenta recuperar materiais valiosos como cobre e ouro

Um tsunami crescente chamado lixo eletrônico

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou na segunda-feira, 14 de junho, o relatório Crianças e Lixeiras Digitais. O documento revela que 18 milhões de menores de idade trabalham com reciclagem no setor informal processando resíduo ou lixo eletrônico.

A publicação apela a uma ação mais eficaz e vinculativa para proteger as crianças da crescente ameaça à saúde. Algumas delas têm apenas cinco anos de idade.

A atividade de lixo informal envolve ainda 12,9 milhões de mulheres, que ficam potencialmente expostas ao ambiente tóxico. Com elas, seus filhos estão em risco ao ter contato com dispositivos elétricos ou eletrônicos descartados.

Crianças expostas ao lixo eletrônico absorvem mais poluentes em relação ao seu tamanho/Foto: OMS/Abraham Thiga Mwaura

O pedido feito a exportadores, importadores e governos é para garantir um descarte ambientalmente correto de lixo com menor risco à saúde e à segurança dos trabalhadores e suas famílias.

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, a alta  produção e descarte coloca o mundo no crescente “tsunami de lixo eletrônico”, citado  em  um recente fórum internacional.

Ele pediu união para proteger a saúde de crianças da crescente ameaça do lixo eletrônico “da mesma forma que o mundo se mobiliza para proteger os mares e seus ecossistemas da poluição por plásticos e micro-plásticos”.

Reciclagem

De acordo com o estudo, são frequentemente os pais ou responsáveis que envolvem os menores na reciclagem de lixo eletrônico por eles terem as mãos pequenas e mais hábeis do que as dos adultos.

Outras crianças vivem, vão à escola e brincam perto de lixões com altos níveis de produtos químicos tóxicos, principalmente chumbo e mercúrio, que podem afetar as habilidades intelectuais.

As crianças expostas ao lixo eletrônico são mais vulneráveis por terem órgãos menos desenvolvidos e um rápido crescimento e desenvolvimento. Elas absorvem mais poluentes em relação ao seu tamanho e têm menos capacidade de metabolizar ou eliminar substâncias tóxicas.

Na saúde humana, o lixo eletrônico tem impacto em quem tenta recuperar materiais valiosos como cobre e ouro. Existe um risco de exposição a mais de mil substâncias nocivas, incluindo chumbo, mercúrio, níquel ou aos chamados retardadores de chama bromados e hidrocarbonetos aromáticos poli-cíclicos.

Para uma futura mãe, a exposição ao lixo eletrônico tóxico pode afetar para o resto da vida a saúde do filho em fase de desenvolvimento uterino. Entre os potenciais efeitos adversos à saúde estão baixo peso e comprimento ao nascimento, ou mesmo a ocorrência de natimortos e prematuros.

Ásia liderou produção de lixo eletrônico em 2019 com 24,9 mega toneladas/Foto: ITU

A exposição ao chumbo na reciclagem de lixo eletrônico é associada a uma baixa performance na avaliação neurológica comportamental neonatal, aumento das taxas de transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade.

Podem também ocorrer problemas comportamentais, mudanças no temperamento infantil, dificuldades de integração sensorial e redução cognitiva e de linguagem.

Outros impactos adversos incluem alterações na função pulmonar, efeitos respiratórios e respiratórios e danos ao DNA. O problema pode afetar a função da tireóide e aumentar o risco de algumas doenças crônicas, como câncer e doenças cardiovasculares em fase adulta.

Ovo

A principal autora do relatório destaca que “uma criança que come apenas um ovo de uma galinha de Agbogbloshie, um depósito de lixo em Gana, vai absorver 220 vezes o limite diário para ingestão de dioxinas cloradas definido pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar.”

Marie-Noel Brune Drisse acrescentou que a gestão inadequada do lixo eletrônico é a causa desse problema. Mas muitos países ainda não reconhecem a questão, que se vem agravando como um problema de saúde.

Cada pessoa gerou uma média de 7,3 kg de lixo eletrônico em 2019/Foto: ITU

Sem ação imediata os impactos serão “arrasadores na saúde das crianças e representarão um pesado fardo para o setor de saúde nos próximos anos. ”

A Parceria Global para Lixo Eletrônico, Gesp, revelou que os volumes de lixo eletrônico estão aumentando globalmente. No quinquênio até 2019, a alta foi de 21%. Foram geradas 53,6 milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico.

Cruzeiro

No ano passado, foi formada uma quantidade do tipo de resíduos comparável a até 350 navios de cruzeiro colocados ponta a ponta para formar uma linha de 125 km de comprimento.

Esse crescimento deve continuar à medida que o uso de computadores, telefones celulares e outros eletrônicos continua aumentando, aliado à rápida obsolescência desses aparelhos.

Apenas 17,4% do lixo eletrônico produzido em 2019 chegou a instalações formais de gerenciamento ou reciclagem.

O resto foi despejado ilegalmente, a maioria em países de baixa ou média rendas onde é reciclado por informais.

Somente 17,4% do lixo eletrônico coletado e devidamente reciclado nesse ano evitou que o equivalente a até 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono fossem lançadas ao meio ambiente.

 

Fonte: Notícia Sustentável

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *