A sustentabilidade tem se tornado cada vez mais importante neste começo de século XXI. E para além das necessidades ambientais, o fato é que ser ‘sustentável’ é hoje um ‘ativo’ essencial para tudo e todos, uma ‘marca’ que orienta conceitos, ideias e projetos mundo afora.
Ou seja, realmente não é mais possível viver, de maneira consciente, sem saber o que é sustentabilidade, sem entender os aspectos que envolvem este conceito. Mas para além de conhecer é preciso, de fato, praticar ações sustentáveis e, por exemplo, optar sempre por escolhas pessoais que sejam alinhadas com a preservação ambiental.
Este é o pensamento do engenheiro civil João Marcello, CEO da Sustentech, empresa paulistana que há 15 anos presta consultoria em projetos que tem como fundamento a sustentabilidade e a aplicação de preceitos (em projetos diversos) que contribuem para amenizar o impacto ambiental que nós, humanos, deixamos no meio ambiente.
Segundo o profissional que, além de engenheiro civil, também é mestre em Engenharia de Recursos Naturais, especialista em Gerenciamento de Riscos Ambientais e em Ecologia Profunda e Ciências Holísticas; todo o trabalho feito pela Sustentech pode ser resumido, basicamente, em consultorias que buscam implementar em ambientes construídos, edificações, instalações, bairros e, por fim, cidades; aspectos relacionados à qualidade de vida e bem estar como um todo.
Estas duas perspectivas (que estão intrinsecamente relacionadas ao conhecimento que ele adquiriu em sua formação acadêmica) são as responsáveis por permitir a incorporação efetiva da sustentabilidade nas construções e demais empreendimentos.
Reforçando que a missão da empresa é incorporar e integrar a sustentabilidade em projetos que podem ser, desde edifícios residenciais e comerciais até grandes obras como shopping centers, João Marcello observa que a procura pela inclusão deste conceito em todas as etapas da construção tem sido crescente.
Mas de que forma a sustentabilidade _ uma concepção aparentemente intangível por envolver aspectos como preservação ambiental e qualidade de vida _ se concretiza, de fato, em um projeto orientado pela Sustentech? João Marcello explica:
“Acredito que isso se deve ao fato de que é cada vez maior a discussão em torno dos impactos que nós geramos no meio ambiente e que afetam nosso futuro. Questões como as mudanças climáticas intensas, o efeito estufa, a biodiversidade ameaçada, entre outras, têm sido cada vez mais faladas. Trazendo isso para o trabalho que fazemos hoje, percebemos que as construções e edificações são responsáveis por grande parte dos impactos ambientais. Então, 70 % das emissões de gases que causam o efeito estufa no mundo inteiro são provenientes de edificações; aproximadamente 41% do consumo de energia do Brasil também vem das edificações; 22% do consumo de água também tem sua origem nas edificações e 65% dos resíduos enviados para os aterros sanitários também são gerados pela construção e operação de edificações. Hoje já sabemos o quanto estas questões estão relacionadas e o quanto temos condições de melhorá-las, portanto, a responsabilidade dos profissionais envolvidos nestes projetos é enorme, é preciso pensar em como estas construções vão operar e impactar no meio ambiente daqui a 50, 60 anos”, ressalta.
Por outro lado, como a sustentabilidade impacta, de forma prática, a vida das pessoas que moram nos prédios, bairros e cidades? Para abordar esse assunto, João Marcello destaca, antes, os impactos ambientais que geramos diariamente:
“Quando falamos sobre consumo de energia, de água e geração de resíduos, a gente sabe que em um ciclo mais longo e isso também vai nos afetar, pois consumimos estes recursos e tudo isso impacta o meio ambiente e a vida de cada um de nós. O aumento da temperatura da terra, dos oceanos, entre outras questões, tudo se relaciona à nossa existência. Falando sobre o impacto da sustentabilidade na vida de quem mora nas edificações, vamos lembrar que hoje passamos mais de 90% de nosso tempo dentro de casa, seja trabalhando ou nos divertindo. Hoje nos preocupamos muito com a qualidade da nossa comida, se fazemos exercícios físicos ou não, por exemplo, mas esquecemos, ou não sabemos o quanto os lugares em que vivemos também impactam nas nossas vidas. Sobre isto existe um estudo feito nos EUA que mostra que se juntarmos todos os impactos genéticos, causados por medicamentos, atividade física e nutrição, estes não chegam nem perto do grande impacto que é gerado pelo lugar em que moramos quando se trata da nossa saúde e bem estar. Com a COVID-19 vimos que o impacto gerado pela ventilação, por exemplo, na disseminação do vírus foi muito ressaltado. Mas a qualidade da iluminação, da água que tomamos e até dos materiais que colocamos em nossas casas também nos afetam. Tudo isso faz parte de estudos que estamos divulgando aos poucos. Então, quando uma pessoa pode morar em um prédio sustentável, que foi construído de forma a lhe proporcionar mais bem estar, ela está sendo diretamente impactada pela sustentabilidade em seu dia a dia”, observa.
As políticas de isolamento social que foram implementadas no começo da pandemia, a imposição do lockdown, entre outras necessidades, fizeram com que o planeta reduzisse o ritmo de trabalho e, naquela ocasião, a poluição também diminuiu. Mais adiante, uma palavra foi ‘inventada’ para definir o lento retorno às atividades: novo normal.
Mas será que este novo normal pode ser visto como um ‘laboratório mundial’ ou uma possibilidade de aprendizado que vai permanecer e pode ajudar a humanidade a adotar, a partir de agora, atitudes mais responsáveis em relação ao meio ambiente? João Marcello acredita que sim, ao menos para as gerações mais jovens.
“Acredito que a pandemia foi um aprendizado para todos nós, principalmente para as crianças e as pessoas mais jovens. Penso assim porque, quando as atividades foram suspensas, vimos que a poluição ambiental diminuiu, ou seja, agora sabemos mais sobre os impactos causados por nossas atividades e devemos trabalhar para reverter isso. Acredito que muitas catástrofes ambientais _ e a pandemia também deixou isso claro_ são resultado do impacto gerado pelas atividades humanas. Isso não significa que devemos parar com nossas atividades, mas que devemos fazê-las de forma mais consciente. Hoje temos a tecnologia a nosso favor, existem vários recursos que podem nos ajudar nisso, mas também temos que mudar nosso comportamento. Pensando na mudança, acho que os mais velhos não serão tão afetados, mas as crianças sim, porque sofreram mais com o uso de máscaras, a reclusão e, por isso, terão mais entendimento sobre a relação que existe entre o meio ambiente e a humanidade. É importante ressaltar que sem essa consciência ambiental, destruiremos a nós mesmos, pois dependemos do planeta para sobreviver, somos parte da natureza e não podemos usar os recursos que ela oferece de forma impensada”, argumenta.
Mas como cada pessoa, não importa onde more, pode ser ‘sustentável’ em seu cotidiano? Segundo João Marcello “fazendo opções mais conscientes em relação à alimentação, ao vestuário, ao local em que reside, trabalha etc. No nosso dia a dia, quando pensamos nos empreendimentos, devemos pensar em formas de gerar energias mais limpas, por exemplo. Hoje temos a energia solar e a fotovoltaica que possibilitam estas escolhas. Precisamos ter consciência em relação aos alimentos que escolhemos, mudar nosso comportamento, optar por atitudes que preservem o meio ambiente como um todo”, salienta.
“Pensar no que é essencial para viver, explorar áreas abertas, trabalhar mais perto de casa ou sem o carro, algumas pessoas estão privilegiando isto, pensando nelas e claro, no meio ambiente como um todo. Por sua vez, estas opções feitas também influenciam os empreendedores que estão construindo edifícios, pois eles precisam pensar em criar ambientes ventilados e iluminados naturalmente, em espaços que possam acomodar bicicletas, carros elétricos entre outras inovações. As demandas geradas pela sustentabilidade estavam sendo implementadas, mas a pandemia acelerou tudo isso, tanto nos ambientes domésticos quanto nas empresas”, observa.
Ao falar sobre o processo de consultoria da empresa e as certificações emitidas pela Sustentech, João Marcello ressalta:
“A gente procura, primeiro, entender quem é o cliente, se é uma empresa, se é o incorporador que quer um apartamento no qual seja possível explorar mais o ‘novo normal’ e, a partir daí, fazemos um diagnóstico e criamos uma estratégia conjunta focada na sustentabilidade. Em seguida, atuamos junto com toda a equipe de projeto e fornecemos orientações técnicas baseadas na estratégia elaborada em todo o processo, até na construção. No final, todo este trabalho pode gerar, para o cliente, um selo de sustentabilidade e bem estar que comprova que aquela edificação é sustentável. Sobre as certificações, temos tido uma procura grande por parte de empresas que perceberam a importância da responsabilidade ambiental até por uma demanda dos investidores que foram influenciadas pelas necessidades do ESG. Então, hoje as empresas procuram, primeiro, incorporar aspectos relacionados ao ESG e, segundo, comprovar isto através das certificações. Existem diversos tipos de certificações, cada uma é adequada para um tipo de empreendimento, contudo, elas são a garantia de que aquele projeto atende aos requisitos impostos pela sustentabilidade”, finaliza.