Foto: Bruno Kelly/Reuters

Mesmo com ação do Exército, alertas de desmatamento da Amazônia sobem 12% em maio

Alertas do Inpe indicam desmatamento de 828,97 km² em maio, alta de 12,24% em relação ao mesmo mês de 2019. Já são 13 meses consecutivos de alta da devastação na região; a perda de maio foi a maior desde 2015

 

Mesmo com uma operação do Exército em vigor na Amazônia, desde o início de maio e com uma decisão da Justiça para que os órgãos ambientais combatam o desmatamento, os crimes ambientais continuam em disparada na região.

Desmatamento

Os alertas feitos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam a perda de 828,97 km² no mês de maio, alta de 12,24% em relação a maio do ano passado, quando os alertas apontaram desmate de 738,56 km². Isso significa que, em apenas um mês, foram derrubados na Amazônia o equivalente à metade da área da cidade de São Paulo.

É o mês de maio com maior devastação desde 2015. Quando comparada com abril deste ano – que registrou 407,04 km² de desmatamento –, a alta é ainda mais expressiva: 103%.

São 13 meses consecutivos de alta no corte da floresta em relação aos mesmos meses do ano anterior. No acumulado desde agosto (quando se inicia o calendário anual para fins de detecção do que ocorre na floresta), o Deter indica a devastação de 6.499 km², ante 3.653 km² no período de agosto de 2018 a maio de 2019. O aumento é de 78%.

Em maio se inicia a estação seca da Amazônia e é justamente quando o desmatamento se intensifica. No início do mês passado, o presidente Jair Bolsonaro decretou uma nova Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para atuar na região na chamada Operação Verde Brasil 2. Fiscais do Ibama foram subordinados aos militares na hora de decidir as ações. Foram investidos cerca de R$ 60 milhões.

No início desta semana, em uma coletiva no Pará, o vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, chegou a afirmar que no mês de maio tinha ocorrido uma queda no desmatamento na região. “A queda foi quase total, nós chegamos a um número ínfimo de ilegalidade cometida”, disse Mourão.

No ano passado, foi a partir de maio que o desmatamento disparou. Foi quando os alertas do Deter começaram a ser destacados na imprensa estrangeira que o presidente Jair Bolsonaro começou a colocar em dúvida os dados do Inpe. Ele chegou a dizer que os números eram mentirosos e que o então diretor do instituto, Ricardo Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG“. Ao Estadão, Galvão acusou Bolsonaro de ser “pusilânime e covarde” e acabou exonerado alguns dias depois.

O Inpe divulgou nesta terça-feira, 9, que o desmatamento consolidado entre agosto de 2018 e julho de 2019 foi o mais alto desde 2008 e superou pela primeira vez no período a faixa dos 10 mil km².

No período, a Amazônia perdeu 10.129 km², de acordo com a análise feita pelo sistema Prodes, que fornece a taxa oficial anual do desmatamento da Amazônia. O valor representa uma alta de 34,41% em relação aos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, a perda havia sido de 7.536 km².

O Deter é um sistema mais dinâmico, que fornece em tempo real alertas para orientar a fiscalização em campo. Mas normalmente a tendência que ele indica, seja de alta ou de baixa, é depois confirmada pelo Prodes.

Por causa das altas que vêm sendo indicadas pelo Deter desde agosto do ano passado, especialistas já estimam que o Prodes deste ano deve trazer uma alta ainda maior que a de 2019.

“Os dados de maio preocupam e indicam uma tendência crescente de desmatamento no período, com níveis ainda maiores do que 2019 – um ano já excepcionalmente alto. Estamos diante de um cenário de total catástrofe para a Amazônia, com a expectativa de mais áreas abertas, invasões e queimadas somadas ao triste cenário do alastramento da pandemia pelo bioma”, afirma Mariana Ferreira, gerente de Ciências do WWF-Brasil, em nota à imprensa.

“De acordo com os compromissos assumidos na Política Nacional de Mudança do Clima, deveríamos reduzir à taxa de desmatamento na Amazônia para 3.900 km² em 2020. No entanto, estamos seguimos na direção contrária. Em 2019, rompemos a triste barreira dos 10.000km² e os alertas do deter apontam para a possibilidade de ter uma taxa cerca de três vezes maior que a meta estabelecida para 2020, contribuindo negativamente para as mudanças climáticas e com a alarmante perda de biodiversidade”, comenta Cristiane Mazzetti da campanha da Amazônia do Greenpeace.

Risco de mais queimadas

Em nota técnica publicada no fim de maio, pesquisadores do Inpe revelaram preocupação com o impacto que esses cortes poderão ter sobre as queimadas deste ano. “Sabemos que essas áreas desmatadas são posteriormente queimadas, e em um clima mais seco, podem causar incêndios descontrolados”, escreveu o grupo liderado pelo pesquisador Luiz Aragão.

Os cientistas afirmaram que, nos primeiros meses deste ano, o oceano Atlântico apresentou um aumento de temperatura acima da média histórica, o que pode causar mais secas na região sudoeste da Amazônia e intensificar processos de queimadas. “Este ano o desmatamento nos Estados amazônicos explicou 50% da ocorrência de queimadas no início do ano, quando são mais escassas. De agosto de 2019 a maio de 2020, detectaram-se 78.443 focos de queimadas na Amazônia, maior quantidade que no mesmo período de 2018-2019”, escrevem.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) também divulgou uma nota técnica no início da semana alertando que a vegetação derrubada e não queimada desde o ano passado – em uma área que pode superar 4,5 mil km² – deverá produzir queimadas intensas a partir deste mês. Isso pode aumentar ainda mais os riscos de um aumento expressivo das internações por problemas respiratórios, aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde da região, já impactados pela covid-19.

Procurados pela reportagem, os Ministérios da Defesa e do Meio Ambiente ainda não se pronunciaram.

 

FONTE: O Estado de S.Paulo | Por Giovana Girardi | 12 de junho de 2020 | 16h

 

 

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