Convidada especial do Brasil a fazer parte da edição atual do grupo das 20 maiores economias do globo (G20), Angola tentou levantar o tema do endividamento dos países mais pobres durante as participações no evento. “Não é um problema único nem específico de Angola e os países mais desenvolvidos têm de dar uma atenção ao tema, permitindo que os países endividados não entrem para um quadro de asfixia em relação ao serviço da dívida”, disse em entrevista ao Broadcast, o ministro para Coordenação Econômica de Angola, José de Lima Massano, que já esteve em dois encontros do G20 Brasil, um no Rio e outro em São Paulo.
O argumento do ministro que comandou o Banco Central do país (Banco Nacional de Angola) por duas vezes é o de que a atenção com o endividamento muitas vezes impede o desenvolvimento das nações. “Há requisitos que obrigam e colocam países em situações de um certo estresse, pois precisam de um nível da melhoria das condições gerais da vida. Faço referências à infraestrutura, à formação de capital humano, entre outros. Nisto, ninguém pode ficar para trás”, avaliou.
Massano considera que, em muitos casos, a dívida passa a ser um elemento de entrave ao progresso dos países. No caso de Angola, a guerra civil de 1975 até 2002 foi apontada como um elemento de adiamento do desenvolvimento e elevação da dívida, além de escassez de recursos que poderiam ser destinados ao avanço econômico, campanhas de proteção à soberania e à integridade territorial. “O tema não é específico de Angola, que nem é o único país no âmbito do G20 que tem estado a tocar a necessidade de se encontrar uma solução em relação para a dívida”, defendeu.
Dados do Ministério apontam que a dívida representa pouco mais de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para Massano, apesar de a relação não ser elevada, há preocupações com os custos do serviço da dívida e da concentração de seu vencimento, considerado como “relativamente curto”. “Por essas vias, vai se colocando uma certa pressão”, observou, mencionando que pelo menos parte dos recursos poderia ser destinado a áreas como educação e infraestrutura.
O ministro lembrou que, depois da pandemia, os níveis de endividamento subiram em todo o globo, atingindo até mesmo países mais desenvolvidos. “Por isso acredito que, novamente, o G20 é uma plataforma que ajuda a fazer essas articulações em nome das nações menos desenvolvidas”, ressaltou.
Fome e Pobreza
Grato pelo convite do G20 brasileiro, Massano enfatizou que interessa muito a seu país o destaque dado pelo Brasil ao combate à fome e à pobreza. Pela pontuação global do índice global da fome de 2023, publicado pela Concern Worldwide e Welthungerhilfe e revisado por pares, Angola está na 99ª posição do ranking, de um total de 125 nações avaliadas.
O país africano, de acordo com o estudo, conta com níveis de fome “extremamente alarmantes”. “Temos tido a oportunidade de partilhar os desafios que se colocam nas realidades do continente africano, da América Latina e da Ásia e a oportunidade de poder expressar opinião entre as nações mais desenvolvidas do mundo”, citou.
A próxima edição do G20 será na África do Sul e, a menos que o país seja convidado novamente, apenas será representado no grupo por meio da União Africana, que passou a fazer parte do fórum internacional na edição brasileira.
Fonte: Broadcast Estadão Por: Célia Froufe