Antes da pandemia, 19,7% das pessoas residiam em domicílios com mais de dois moradores por dormitório, o que pode dificultar o isolamento em caso de infecção.

Água: em 2019, quase 38% da população tinha alguma dificuldade de acesso

Quase 38% da população do país tinha alguma vulnerabilidade de acesso à água, o que poderia dificultar a higienização das mãos e de objetos em 2019, período anterior à pandemia de Covid-19. Enquanto 22,4% moravam em domicílios sem abastecimento diário ou estrutura de armazenamento de água, 11,9% eram abastecidos por outra forma que não a rede geral. Além disso, 3,4% dos domicílios não estavam ligados à rede geral de água nem contavam com canalização.

 

Os dados são dos Indicadores Sociais de Moradia no Contexto da Pré-Pandemia de Covid-19, divulgados, hoje (23), pelo IBGE. O estudo aprofunda a análise das condições de vida da população brasileira, com foco em características dos domicílios: abastecimento de água; adensamento domiciliar; existência de banheiro e rendimento domiciliar. Os indicadores foram gerados a partir da PNAD Contínua 2019 e estão disponíveis no hotsite covid19.ibge.gov.br.

 

“No contexto atual, no qual autoridades de saúde apontam a importância do distanciamento social e da lavagem das mãos com água e sabão para o combate à pandemia, o IBGE considera fundamental disponibilizar informações que auxiliem a superação da crise e a proteção da população frente ao grave quadro de saúde pública global”, explica o analista do estudo, Bruno Mandelli Perez.

 

#PraCegoVer mão ensaboada com torneira fechada e a outra mão abrindo a torneira
3,4% da população vivia em domicílios sem canalização – Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

 

 

Diferentes recortes do acesso a água por regiões brasileiras

 

Essas dificuldades de higienização eram ainda maiores entre as grandes regiões do país. No Norte, 10,7% da população brasileira residia em domicílios sem canalização interna de água e abastecidos principalmente de outra forma, que não a rede geral de distribuição de água. No Nordeste, essa proporção era de 7,9%. Ambos os valores estavam acima da média nacional (3,4%). Entre as unidades da federação, o maior valor foi verificado no Pará, com 13,8%.

 

 

O percentual de pessoas pretas ou pardas (4,8%) que viviam em domicílios que não tinham na rede geral a sua principal forma de abastecimento de água e não contavam com canalização interna nos domicílios era bem maior do que a população de brancos (1,6%).

 

A análise revela, ainda, que 10,4% das pessoas que residiam nas áreas urbanas do Brasil viviam em domicílios que, mesmo abastecidos principalmente pela rede geral de água, tinham frequência de abastecimento inferior à diária. Já nas áreas rurais, 18,8% das pessoas moravam em domicílios que não tinham na rede geral a sua principal forma de abastecimento de água e não contavam com canalização interna nos domicílios.

 

“Esses dados tornam ainda mais evidente a desigualdade no abastecimento de água nos domicílios brasileiros. Somente 62,2% da população dispunha de água oriunda de rede geral de distribuição, com abastecimento diário e com estrutura de armazenamento em seu domicílio, e, portanto, tinha melhores condições de cumprir as recomendações de higienização”, explica Perez.

 

Um em cada dez brasileiros vivia em domicílio com seis pessoas ou mais

 

Outra preocupação das autoridades sanitárias para controle da disseminação do vírus é o número de pessoas por domicílio (adensamento domiciliar) e a possibilidade de isolamento na residência no caso de infecção de algum morador. Sobre isso, os dados do IBGE mostram que, em 2019, 27,0% da população brasileira vivia em domicílios com três pessoas. Já 9,8% da população brasileira residia em domicílios com seis ou mais moradores.

 

O estado do Amapá (32,5%), assim como a região metropolitana de Macapá (32,4%) e a capital, Macapá (32,0%), apresentaram a maior proporção de pessoas vivendo em domicílios com seis pessoas ou mais, em 2019.

 

 

Esse indicador também está correlacionado a cor ou raça e a renda dos moradores. A proporção de domicílios com seis ou mais moradores era 12,3% entre a população preta ou parda e 6,5% na população branca. Entre a população que vivia na pobreza, com menos de US$ 5,50 por dia ou R$ 436 per capita por mês – medida adotada pelo Banco Mundial para identificar a pobreza em países em desenvolvimento como Brasil –, 22,0% residiam em domicílios com seis ou mais pessoas.

 

19,7% da população morava em domicílios com dois moradores por dormitório

 

Antes da pandemia, 19,7% das pessoas viviam em domicílios com mais de dois moradores por dormitório. Na região Norte, esse percentual era ainda maior (35,4%), com destaque para o estado de Roraima (46,5%). No outro extremo, estava Santa Catarina, onde 10,5% da população morava em domicílios com mais de dois moradores por dormitório.

 

“Isso mostra a dificuldade de alguns brasileiros de praticarem o isolamento social no domicílio caso algum morador apresente algum sintoma”, comenta Perez.

 

8,1% da população que vivia na pobreza morava em domicílios sem banheiro

 

Além das dificuldades de acesso à água e o excessivo número de moradores por cômodo, algumas famílias brasileiras ainda viviam em domicílios sem banheiro. Isso foi verificado em 2,6% da população. No Norte do país, 11,0% dos moradores não tinham banheiro em casa.

 

Entre a população que vivia na pobreza, mais da metade (57,2%) residia em domicílios com mais de três moradores por banheiro. Já 8,1% em domicílios sem o cômodo usado para higienização pessoal.

 

Dados contra o coronavírus

 

Desde abril do ano passado, o IBGE disponibiliza dados de pesquisas próprias ou em parceria com outras instituições para a construção de cenários e no monitoramento das políticas públicas voltadas ao combate da pandemia causada pela Covid-19 no país. Esse é mais um estudo com esse propósito. Outros podem ser consultados no hotsite covid19.ibge.gov.br.

 

Fonte: Agência IBGE

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