No Brasil 6 em cada 10 professores avaliam que as crianças estão menos preparadas para o início da vida escolar. É o que conclui a nova pesquisa global que revelou um cenário preocupante na condução das crianças para a escola primária. Essa percepção é impulsionada principalmente pela baixa frequência na educação infantil.
Conduzido pela Theirworld, organização da sociedade civil que atua em benefício da educação infantil, a pesquisa entrevistou quase 2.600 profissionais de educação nos países como Reino Unido, Estados Unidos, Brasil, Holanda, África do Sul e Índia. Os resultados mostram que o Brasil está entre os países com maior índice de preocupação com a falta de preparação das crianças para a escola, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, onde 78% dos educadores compartilham dessa visão.
A principal causa apontada para essa deficiência é a baixa frequência na pré-escola, citada por 52% dos entrevistados como um fator crítico. Outros problemas significativos incluem a falta de recursos disponíveis para que as famílias ensinem habilidades essenciais (41%) e a preparação inadequada das crianças na pré-escola (46%).
O levantamento global vem de encontro aos dados divulgados recentemente pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Gaepe-Brasil, que apontam que atualmente 632 mil crianças estão na fila de espera por uma vaga em creche em todo país. As situações mais desafiadoras estão nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde todos os municípios do Acre, Amapá, Roraima e Distrito Federal registram filas por falta de vagas em creches.
O estudo da Theirworld revela ainda que, no Brasil, uma parte considerável dos professores acredita que seus alunos enfrentam dificuldades com tarefas básicas. Apenas 28% dos educadores acreditam que 80% ou mais de seus alunos conseguem realizar atividades apropriadas para a idade, como ir ao banheiro de forma independente ou lavar as mãos. Além disso, mais de um quarto dos profissionais afirma que a maioria dos alunos não consegue identificar letras ou palavras simples, incluindo o próprio nome, ao iniciar o ciclo escolar.
“90% do cérebro de uma criança se desenvolve até os cinco anos de idade, tornando esse período entre o nascimento e a escola o ‘momento mais importante’ de suas vidas. Sem investimento na educação primária, os mais jovens e vulneráveis do mundo começarão suas vidas em desvantagem e isso pode ter consequências duradouras por gerações”, alerta o presidente da Theirworld, Justin van Fleet.
O defensor global pela educação infantil destaca que atualmente não existe um plano financiado para alcançar a meta estabelecida pelos líderes mundiais para 2030, que visa garantir que todas as crianças tenham acesso a um desenvolvimento e educação de alta qualidade na primeira infância, para que estejam prontas para o ensino fundamental.
“Os líderes mundiais precisam acordar para a evidência esmagadora e indiscutível de que investir nos primeiros anos é uma das maneiras economicamente mais eficazes de construir sociedades mais saudáveis, ricas e sustentáveis, além de enfrentar algumas das maiores crises que enfrentamos, desde as mudanças climáticas até o aumento da desigualdade. Com o futuro de milhões de crianças em jogo, não podemos esperar”, completa van Fleet.
A pesquisa também destaca uma percepção de que os governos não estão fazendo o suficiente para apoiar a preparação escolar. Quase metade dos profissionais de educação infantil brasileiros (48%) acredita que a atuação governamental ainda é insuficiente, alinhando-se com a média global de 50%.
De acordo com o Censo Escolar de 2023, o mais recente, a taxa de escolarização de crianças de até três anos é de 39% no país. No Norte, esse percentual é o mais baixo, de 21% – seguido de Centro-Oeste (32%), Nordeste (35%) e Sudeste e Sul (ambas regiões com 46%). Segundo a pesquisa, 1.972 municípios não possuem plano de expansão de vagas. Desses, 21% afirmam não ter o planejamento por entenderem não haver necessidade.
O Brasil está entre os seis países com menor investimento por pessoa no ensino primário, a partir dos 4 anos, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os números são do relatório Education at Glance 2024, que compara as estruturas de educação dos países membros com base em dados de 2021.
O país investe US$3.668 por aluno, enquanto a média dos demais países membros é de US$11.914. Entre os 42 países avaliados, o Brasil aparece na 36ª colocação. Vizinhos da América do Sul, como Argentina e Chile, aparecem na frente, com gastos por estudante de, respectivamente, US$3.679 (35º no ranking geral) e US$7.081 (29º).