A população jovem brasileira é a que mais sofre com ansiedade no país, isso porque 31,6% das pessoas entre 18 e 24 anos já foram diagnosticadas com o transtorno. Ao olhar para todos os brasileiros, 26,8% alegam ter recebido diagnóstico médico para o mesmo problema, segundo dados do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia). O Janeiro Branco, campanha criada em 2014 e transformada em lei (14.556/2023) em 2023, é uma ação anual de saúde pública de conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde mental e emocional.
A história da assistência mental no Brasil é permeada por mudanças que impactaram a percepção da sociedade e dos próprios profissionais acerca do cuidado com saúde mental, conforme aponta Helena Limões, profissional de psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS. Um exemplo dessa evolução é a criação do Janeiro Branco, há 10 anos, e da Reforma Psiquiátrica em 2001.
Histórico de luta e discriminação
Na virada dos anos 1970 para os 1980, o Brasil testemunhou o início da Reforma Psiquiátrica, marcando uma mudança significativa no tratamento de saúde mental. A reforma foi impulsionada por denúncias de violência em hospitais psiquiátricos e influências internacionais. Em 1987, o Manifesto de Bauru e o surgimento do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) consolidaram a luta por uma “sociedade sem manicômios”.
A psicóloga Helena Limões explicita as falhas e excessos cometidos durante esta fase embrionária da assistência psicológica em território nacional. “A assistência aos pacientes com transtornos mentais no Brasil surgiu nos primeiros hospícios de forma totalmente excludente, retirando da sociedade os que eram considerados ‘loucos’, segundo determinações da época”, aponta a psicóloga.
Segundo Limões, essa assistência focava na doença, esquecendo, assim, de compreender o sujeito em sua totalidade. “Uma assistência de qualidade prestada aos pacientes psiquiátricos no Brasil é algo recente. Em um passado não muito distante, as pessoas com doenças mentais não tinham sequer o direito de receber os cuidados necessários em relação ao seu sofrimento psíquico”, afirma.
As mobilizações refletiram na regulamentação da Reforma Psiquiátrica, com a Lei Nº 10.216 aprovada em abril de 2001, que propulsionou o fechamento de manicômios e hospícios em todo o país. Como desdobramento da reforma, em 2002, o Ministério da Saúde criou o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), espaços de acolhimento de pacientes com transtornos mentais, com o objetivo de prestar assistência médica e psicológica, visando a reintegração dos doentes à sociedade. A Lei da Reforma Psiquiátrica impulsionou a transição do modelo de atenção à saúde mental no Brasil, permitindo a expansão da rede de serviços comunitários, com assistência integral e multidisciplinar aos usuários.
Panorama atual e desafio do pós pandemia
Em 2019, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um bilhão de pessoas viviam com um transtorno mental. O estudo feito pela OMS também indica que o suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes e quase 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade.
Somando-se a isso, a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. No Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em documento publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, em 2021, indica que cerca de quatro em cada 10 brasileiros tiveram problemas de ansiedade por conta da pandemia.
“Acredito que nunca tenha se falado tanto da importância da saúde mental como nos últimos anos, principalmente durante e após a covid-19. A pandemia acarretou o aumento de diversos transtornos na população como ansiedade, pânico, insônia e depressão. Isso, por outro lado, também aumentou significativamente a busca por tratamento terapêutico e psiquiátrico”, acrescenta Limões.
Nesse cenário, a profissional de psicologia aponta que os avanços tecnológicos têm contribuído positivamente para o tratamento. “Os meios digitais impactaram na facilidade da procura e da realização do tratamento terapêutico, já que temos inúmeras plataformas que possibilitam, mesmo que a longa distância, que o paciente tenha o seu tratamento terapêutico com o profissional de sua escolha, independente de onde esteja, e faça as suas consultas com a mesma qualidade e segurança que seria no presencial”, pontua.