As empresas descobriram a capacidade do terceiro setor de gerar benefícios sociais e até bons ativos à sua reputação. Pelo menos é o que sugerem os números do Relatório de Investimentos de Impacto no Brasil de 2021, divulgado pela Aspen Network of Development Enterpreneurs (Ande), e patrocinado pelo Grupo Boticário, Fundo Vale e Potencia Ventures.
Segundo o levantamento, os aportes de impacto socioambiental alcançaram a marca de R$ 18,7 bilhões naquele período, superando em 60% os R$ 11,5 bi do ano anterior. O advogado Tomáz de Aquino Rezende, especializado no terceiro setor, admite que o balanço foi inflado pelo cenário de pandemia de covid-19, mas aposta que a tendência é que as corporações intensifiquem os investimentos em instituições sociais.
“No contexto da pandemia, foi uma espécie de contrapartida necessária num momento em que o consumo havia definhado diante do aumento do desemprego e do isolamento social. As grandes empresas mantiveram sua imagem intocável graças às ações que promoveram para além do faturamento”, avalia.
Para ele, a iniciativa de investir nas transformações sociais foi para atender a uma expectativa que os consumidores criaram em torno das marcas. “A sensibilidade de quem fatura milhões ou até bilhões de reais por ano foi colocada à prova durante a pandemia. Está claro que o consumo voltou, mas essa expectativa continua a ser uma tendência para que as projeções de receita se mantenham”, sugere Tomáz de Aquino. “O público não quer somente consumir um produto de alta qualidade. Quer também saber que sua experiência de consumo é com uma empresa que tem a vocação de promover transformação social”, complementa.
Por isso, o advogado acredita que o relatório de 2021 tende a se manter para os anos seguintes. “O terceiro setor tem o foco na melhoria social, é verdade, mas também traz benefícios à imagem de quem investe pesado no segmento. E é importante ressaltar: essa atividade tem um PIB que movimenta mais de R$ 200 bilhões por ano, e que emprega quase cinco milhões de pessoas, gerando resultados que vão muito além dos seus investimentos. Vale a pena aportar recursos e ver os efeitos que eles são capazes de oferecer à sociedade. É uma mudança que não tem preço”, sustenta o jurista.