A disputa entre o Real Madrid e o Valencia pelo Campeonato Espanhol, no dia 21 de maio, ganhou as manchetes de todo o mundo devido aos ataques racistas sofridos pelo atacante Vinícius Júnior. Aliás, o racismo é um tema recorrente na história do futebol europeu: Roberto Carlos (2011), Neymar (2011), Daniel Alves (2014), Hulk (2015), Taison e Dentinho (2019), Malcom (2019) e Richarlison (2022) estão entre os atletas brasileiros que foram alvo de preconceito dentro e fora de campo.
Esta semana, o meia Joelinton, do Newcastle – que foi convocado pelo técnico Ramon Menezes para os amistosos do Brasil contra Guiné e Senegal – partilhou que já foi vítima de racismo após uma partida contra o Arsenal. Na ocasião, o jogador recebeu mensagens com insultos racistas.
Para o empresário e advogado Mauricio Ferro, a recorrência do racismo é um fato. “Na Europa, a questão está além do tolerável, se é que deve haver algum grau de tolerância nisso. Após toda a reação global, que extrapolou os gramados do estádio Mestalla, a Europa, e, principalmente, a Espanha, devem agir”.
Na visão de Ferro, a reação das instituições não é adequada. “Os posicionamentos consistem em notas burocráticas simpatizantes à causa do racismo, do tipo ‘vamos investigar se, de fato, houve a ofensa’. O racismo não precisa de VAR para checar erros grosseiros das pessoas, ele simplesmente é”.
O empresário ressalta que é necessário investir esforços para avançar no combate ao racismo no futebol no Brasil e no mundo: “Não existe ‘bala de prata’ contra o racismo. A questão vai além da punição a torcedores, clubes e ligas, mas deve começar por aí”.
Para Ferro, estádios [onde ocorrem crimes de racismo] devem ser interditados e clubes rebaixados. “A Uefa (União das Associações Europeias de Futebol, em português) e a Fifa (Federação Internacional de Futebol) precisam ‘sacudir’ o esporte, que é assistido por bilhões de pessoas em todo o planeta”, articula. “O esporte precisa ser imediatamente paralisado quando houver um ato racista”, afirma o advogado.
Na Europa, países como a Itália passaram a adotar medidas a fim de combater o racismo após os ataques sofridos por Vini Junior. Recentemente, Luigi De Siervo, chefe da Série A italiana, afirmou que “o futebol italiano vai adotar uma abordagem de ‘tolerância zero’” contra torcedores racistas, que serão identificados e banidos dos estádios com o auxílio de dispositivos tecnológicos, como câmeras e microfones.
No Brasil, o preconceito também está presente – dentro e fora de campo, inclusive no mercado de trabalho. De acordo com uma pesquisa desenvolvido pela empresa CEGOS para a CNN Brasil, o racismo é a principal discriminação no ambiente profissional em 75% das empresas do país, sendo seguido por opiniões políticas (42%) e aparência física (37%).
A entrevista coletou respostas de 4 mil profissionais de RH (Recursos Humanos) em sete países: Brasil, França, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Espanha e Portugal. Em todo o mundo, 82% dos trabalhadores já observaram algum episódio de preconceito durante as atividades laborativas.
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