Sommelière Thais Lima.

MULHERES DESBRAVAM SERVIÇOS MAJORITARIAMENTE MASCULINOS NO MUNDO DA GASTRONOMIA

Assim como em muitas profissões voltadas à gastronomia, o mundo das bebidas alcoólicas é dominado por homens. Nota-se que muitos dos cargos voltados ao estudo do vinho, dos destilados e das cervejas são ocupados pelo sexo masculino: sommeliers (especialista em vinho), sommeliers de cerveja, bartenders, mixologistas… A hegemonia é tanta, que poucos sabem que existe uma palavra diferente para quando o especialista em vinhos e cervejas é mulher: sommelière, e não sommelier.

Neste cenário em que muitas competências são validadas pelo gênero, mulheres têm despontado com sua habilidade, e provado que o remédio para o sexismo é óbvio – conhecimento e trabalho bem executado.

“O segredo é estudar”

Ana Clara Carvalho, sommelière, atualmente ocupa cargo fixo no recém-inaugurado ‘A Mano, casa comandada por três sócios ex-Fasano (Ronny Peterson, André Sampaio e Carlos Rodrigues) e dois empresários conhecidos no mercado de restaurantes de Brasília (Tiago Boita e Leandro Pompeu).

Para a profissional, a fórmula é “estudar muito”. “Existe um preconceito principalmente no início da carreira, e demora para que sejamos respeitadas. Eu, por exemplo, quando fui promovida à chefia… Demorou um pouco para me respeitarem. Mas hoje isso passou. Até porque, quando você faz o seu trabalho bem feito, e mostra o que sabe, não tem o que argumentar. E, para se manter na profissão, o segredo é estudar muito”.

A adega do ‘A Mano é de responsabilidade da sommelière. Ana Clara faz parte do quadro fixo de funcionários do restaurante, e está sempre servindo às mesas e disponível para fazer sugestões de harmonização. Além disso, a profissional montou a carta de vinhos, que conta com cerca de 150 rótulos, distribuídos por países diversos, incluindo exóticos como o Líbano (em tradição enófila) e clássicos como a Itália.

“A carta de vinhos foi escolhida com cuidado para ter um bom custo benefício e harmonizar com o menu. Nossa gastronomia viaja entre a clássica italiana e a cozinha autoral de Ronny Peterson. O vinho e a comida sempre me encantaram. Eles contam a história do clima de um ano, exalam aromas de combinações químicas deliciosas e sua estrutura de sabor muda de acordo com a temperatura do sol e força dos ventos, é pura magia. O tipo de solo também influencia no resultado final do alimento, e o mesmo fruto se adapta e transforma de acordo com o Terroir, alterando o perfume e paladar dos vinhos”, conta.

Idade e coragem

Thais Lima, de 22 anos, chegou à chefia de bar do Beer Club Brasília em seu primeiro emprego na área da mixologia. É ela quem cria drinques para ocasiões especiais, serve os clientes no dia a dia, faz sugestões de harmonização e organiza a movimentação do bar.

Thaís não assina a carta de bebidas do estabelecimento, pois a mesma foi elaborada antes de sua chegada, por Gustavo Guedes. Ainda assim, em pouco tempo de casa, já criou diversos drinques que são incorporados ao cardápio, com combinações…

Para a profissional, o preconceito muitas vezes vem associado a desprezo. “Como eu sou a chefe de bar e fico no front, é muito comum passar por situações desconfortáveis. Uma vez, cumprimentei o cliente, e perguntei em que poderia ajudá-lo. Ele se dirigiu ao funcionário do caixa e foi pedir a ele uma harmonização, como se eu não estivesse lá. Educadamente, o caixa disse ao cliente que a pessoa mais graduada para atendê-lo era eu, a chefe de bar. Uma mulher! Ele pareceu bem surpreso, e eu o cumprimentei novamente como se nada tivesse acontecido, continuando o atendimento”, comenta.

Lima aponta ser incentivada pelos donos e pela gerência do Beer Club, e que o apoio da chefia a incentiva a permanecer exercendo sua função. “Muitos duvidam, fazem perguntas desconfiadas sobre as bebidas, mas saem satisfeitos ao final do atendimento, com preconceitos quebrados. E o carinho de pessoas como a Samantha [Meira, gerente] e o Eduardo [Meira, sócio] é essencial”.

Conhecimentos e prática

Ana Clara é formada pela Associação Brasileira de Sommeliers, de São Paulo. Trabalhou na Terroir Importadora, no Bar des Arts (restaurante de Giancarlo Bolla) e no Grupo Fasano, onde permaneceu por 11 anos, como maitresse e sommelière. Além disso, Ana ajudava a criar os textos de um programa sobre vinhos na Rede TV. Em Brasília, depois do Gero, atuou no Parrilla Madrid e MM Representações.

“Fiz viagens para conhecer alguns vinhedos pelo mundo e seus processos de vinificação, cursos com o sommelier Gianni Tartari e grudei no Manoel Beato que com sua generosidade e paciência foi um grande professor e amigo. Passávamos as tardes do início da semana degustando vinhos que me ajudou a formar uma memória olfativa mais rica”.

Thaís Lima começou a estudar sozinha sobre cervejas, por interesse pessoal. Está no último módulo do famoso curso de bartender da DIAGEO. Em muitos restaurantes ao redor do mundo, o profissional só pode exercer funções na área de bebidas com a certificação da DIAGEO. Thaís também está cursando gastronomia no Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB).

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