Um estudo em andamento na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) está desenvolvendo um sistema de mapeamento do ciclo de vida de baterias. O “passaporte” digital de baterias, como tem sido chamado, é baseado em blockchain e produz um relatório completo da vida útil do dispositivo, desde a extração do minério para a fabricação até o descarte do produto.
O projeto tem o financiamento da empresa francesa TotalEnergies e faz parte de um acordo de R$ 22,9 milhões. O objetivo do estudo é, segundo os pesquisadores, poder ter um mapeamento completo das etapas de fabricação e uso das baterias, obtendo informações como quantidade de gás carbônico emitida e de energia elétrica utilizada.
O grupo de 15 pesquisadores está desenvolvendo uma plataforma online com a tecnologia blockchain, que coletará dados criptografados de diversas empresas que produzem baterias. O sistema poderá ser usado para rastrear baterias de qualquer tipo, desde veiculares até baterias de celular.
Robert Souza, empreendedor e especialista em tecnologia, avalia como positivo o projeto da Unicamp de criar um “passaporte” digital de bateria. “Utilizando a tecnologia blockchain para rastrear o ciclo de vida das baterias, desde a extração de minérios até a reciclagem, o projeto não só exemplifica a aplicação prática da blockchain além das criptomoedas, mas também aborda questões críticas de sustentabilidade e responsabilidade ambiental”, explica o especialista.
Como resultado do projeto, a equipe da Unicamp espera tornar possível o desenvolvimento de modelos que previnam o estado de saúde das baterias e permitam, por exemplo, melhorar sistemas de carregamento e otimizar o uso. Além da questão ambiental, os pesquisadores apontam impactos também no âmbito comercial.
Robert Souza afirma que esse projeto tem o potencial de revolucionar as estratégias de sustentabilidade no descarte e reciclagem de baterias. “Será possível assegurar a eficácia do sistema em promover práticas responsáveis de descarte e também otimizar a reciclagem, permitindo a identificação precisa de baterias recicláveis e a recuperação eficiente de materiais”, explica.
O projeto está previsto para durar três anos e está sendo desenvolvido no Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro) da Unicamp. Os pesquisadores explicaram ao site Cointelegraph que a opção por usar a tecnologia blockchain permite conectar diversas empresas numa mesma cadeia de dados, de maneira a proteger as informações fornecidas por elas.
“Uma das principais aplicações do blockchain, fora do mercado de criptomoedas, está na rastreabilidade e transparência da cadeia de suprimentos. Empresas brasileiras, especialmente em setores como agronegócio e alimentação, estão adotando essa tecnologia para garantir a autenticidade e a qualidade dos produtos, desde a origem até o consumidor final”, conta Robert Souza.
O projeto terá impactos na indústria de baterias, fabricantes de automóveis, governos e em ações de proteção ao meio ambiente, segundo os responsáveis pelo projeto da Unicamp.
“O blockchain já tem hoje um potencial significativo em diversas outras áreas além das criptomoedas”, diz. “Rastreabilidade e transparência da cadeia de suprimentos, contratos inteligentes, registro e autenticação segura de documentos e o novo Real Digital são todos exemplos de aplicações inovadoras do blockchain”, finaliza Robert Souza.