A Síndrome do Intestino Irritável (SII) acomete duas vezes mais as mulheres do que os homens e provoca dor e distensão abdominal, inchaço, constipação e/ou diarreia recorrente. Esta condição é comum na população, mas acomete duas vezes mais as mulheres do que os homens, afetando negativamente a qualidade de vida do paciente, tendo em vista que seus sintomas podem persistir por um longo período.
A gastroenterologista também destaca que existem outros fatores que podem contribuir para a maior prevalência da SII em mulheres, como, por exemplo, a resposta biocomportamental ao estresse, a ansiedade, a depressão e a somatização, além da prevalência de comorbidades associadas à dor crônica, frequentemente associadas à síndrome, como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, dor pélvica crônica e enxaqueca, o que sugere associação com o status hormonal.
Segundo a Dra. Marcella Salazar Sousa, gastroenterologista e membro da Comissão da Mulher da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), este fator pode estar relacionado a mudanças hormonais: “Enquanto na população masculina há um predomínio da SII com diarreia, entre as mulheres há mais relatos de sintomas de constipação – redução na frequência das evacuações e fezes mais endurecidas – exceto durante o período menstrual, quando os níveis hormonais caem”, explica. Durante o período menstrual e, quando as mulheres estão mais vulneráveis ao estresse, ansiedade e depressão, os sintomas podem ser mais intensos: “Nesse período, quando há uma queda nos níveis hormonais, há também muitos relatos de exacerbação da dor abdominal, barriga inchada e da sensibilidade retal, quando comparado com outras fases do ciclo menstrual. Já o estresse afeta a barreira intestinal e aumenta a permeabilidade intestinal através de fatores imunológicos que agravam os sintomas da SII”, esclarece a médica.
Outro fator que pode agravar e causar desconforto aos pacientes com SII é a alimentação. O ideal é manter um estilo de vida saudável, o que engloba a prática de atividade física, que, além de trazer vários benefícios para a saúde, ajuda os movimentos intestinais e aumenta a frequência evacuatória, reduzindo, assim, os sintomas relacionados à síndrome. Evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool, bebidas gaseificadas, cigarro, alimentos gordurosos, condimentados e fermentados também auxiliam na redução do desconforto abdominal.
O diagnóstico da SII é de inclusão e baseado em sintomas, conforme os critérios de Roma IV, que são: o paciente deve apresentar dor abdominal recorrente, ao menos um dia na semana nos últimos três meses, associado a dois ou mais dos seguintes critérios: relação com evacuação, alteração na frequência das evacuações e alterações na forma e/ou consistência das fezes. É importante ressaltar que estes sintomas devem estar presentes nos últimos três meses e terem iniciado, pelo menos, há seis meses. Poucos exames complementares são necessários para exclusão de diagnósticos diferenciais.
Embora a doença não tenha cura, existe tratamento para auxiliar no controle dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes: “É importante ter uma boa relação médico-paciente e assegurar que, apesar de interferir na qualidade de vida, a doença é uma condição benigna. A conduta terapêutica depende da intensidade e dos sintomas predominantes (diarreia, constipação, dor abdominal e distensão) e incluem também mudanças no estilo de vida do paciente, além das medicações”, afirma a médica.
Além disso, a gastroenterologista ressalta que a terapia cognitiva comportamental é uma excelente ferramenta para reduzir a ansiedade e o estresse, que são os fatores que também contribuem para a piora dos sintomas relacionados à síndrome.
Este texto não substitui uma consulta médica. Em caso de dúvidas, um gastroenterologista deve ser consultado.